“AMIGO DOS CIGANOS”
“ Quando o tempo chegar, e eu estiver morto, levem meu corpo para o meu sítio Simbeu, minha cabeça pousada onde foi a minha vida, meu corpo em direção à Igreja das Santas. É neste lugar e desta forma que eu quero repousar.”
O Marquês Folco de Baroncelli é descendente de uma antiga e tradicional família de Florença que teve que se exilar em território francês, na cidade de Avignon, motivado pela insurreição contra a família Médicis, no século XVI. E que recebeu de Leão X, o título de Marquês de Javon.
O jovem marquês realizou seus estudos em Nime, mas tornou-se de paixão por Camargue e pelo trabalho rude de suas vastas criações de touros.
No entanto, o nobre italiano não esqueceu suas raízes. E delas retirou o que lhe talhava a alma gentil e amorosa.
Depois de ter vendido todos os seus bens, Baroncelli compre um sítio para criar e treinar cavalos e touros. Escolhe viver na apaixonante Camargue com sua jovem esposa. A vida de um guardião ou criador de cavalos e touros é bastante dura.
Apaixonado pela música e pela poesia, deu o nome das heroínas de Mistral às três filhas que tivera.
A memória do Marquês de Baroncelli é ainda muito reverenciada em toda a Camargue, e principalmente nas Santas Marias, por ter defendido Camargue e suas tradições, e por ter fundado a nação dos guardiães, difundindo a vocação da cidade para a criação de cavalos merinos e bois selvagens.
O MARQUÊS E SANTA SARA KALI
Baroncelli ganhou respeito do povo cigano, tornando-se amigo de inúmeros deles. Foi em atenção a esta amizade que ele conseguiu, em 1935, gozando de grande prestígio junto ao Arcebispo de Arles, retornar a procissão de Sara Kali pelas ruas da cidade.
As primeiras procissões de Sara Kali, quando a Santa escoltada pelos ciganos, pelos guardiães de cavalos e bois e pelas arlesianas, era um costume tradicional que não contava com o respaldo da Igreja.
Mais tarde, após a Segunda Guerra Mundial, quando milhares e milhares de ciganos foram vítimas nos campos de concentração, uma comissão de apoio da Igreja foi criada para dar mais atenção aos ciganos, bem como a sua cultura. Em 1953, os padres assistem à procissão de Santa Sara.
Quando o Marquês de Baroncelli faleceu, os ciganos de Camargue prestaram-lhe grandes homenagens, num funeral grandioso.
E escrito por eles nas guirlandas de flores “Falco de Baroncelli, Marquês de Javon, repousa nas terras de seu último sítio”. Seu túmulo é de grande sobriedade, e merece uma visita.
“O MUSEU DE BARONCELLI”
O interessante edifício projetado pelo arquiteto, arlesiano Véran, guarda documentos e coleções de Baroncelli. Documentos de fauna e flora da região.
Os dois medalhões que ornam a fachada do prédio datam do século XVII. Foram doados pela prefeitura local, no ano de 1655. Retratam o brasão do nobre de espírito cigano e as duas Santas Marias em sua barca.
A vista que se tem da cidade é mais ampla e bonita, subindo-se ao terraço do prédio. Aprecia-se de lá a Igreja de Nossa Senhora do Mar, bem no centro do coração da cidade.
O MUSEU CIGANO
A criação do Museu Cigano Brasil tem como objetivo principal a divulgação e o resgate das tradições às futuras gerações e evita desta forma cair no esquecimento uma cultura tão rica como é a do povo cigano. Foi criado com o intuito de lançar sementes no terreno social, histórico e cultural, pela promoção de encontros culturais e sociais, debates, palestras, e eventos entre outros.
Diversas carroças, documentos antigos, artesanatos, fotografias, trajes e objetos de uso pessoal de tribos européias contam a história de antepassados.
PROGRAMAÇÃO OFICIAL
24 DE MAIO
10 h- Missa de Abertura da Peregrinação
15 h- Cerimônia de descidas do Relicário das Duas Marias
16 h- Procissão de Santa Sara com benção no mar
21:30 h- Virgília para preces e missa.
Durante todo o período, acontecem as famosas rodas de ciganos, com muita música e dança.
7 h- Primeira Missa
10 h- Missa Solene das Santas Marias Jacobé e Salomé
11 h- Procissão das Santas Marias com benção no mar
15 h- Cerimônia do Relicário das Duas Marias
25 DE MAIO
Jornada em Memória do Marquês de Baroncelli
10 h- Abrivado e bandido* nas ruas da cidade
12:00 h- Cerimônia no túmulo do Marquês de Baroncelli
15:30 h- Danças jogos típicos da região
*Abrivado: demonstração de perícia dos cavaleiros, na separação dos touros jovens dos adultos.
Bendido: o touro jovem e laçado para a aplicação da marca do proprietário.
AS CARAVANAS
Anualmente, no mês de Maio, ciganos europeus e de muitos continentes, em menor número, invadem a pequena cidade de Saintes-Maries-de-La-Mer e a transformam em um grande acampamento.
Vêm para estar com Sara, como dizem alguns, acentuando o tom de intimidade com a Santa. As ruas da cidade ganham um colorido sem igual. Carroções antigos são exibidos como troféus, e se mesclam aos transportes mais modernos, antenados com a modernidade, cheios de parabólicas. O que ambos os grupos tem em comum, continua sendo o gosto pelas viagens longas para encontrar suas próprias raízes e tradições.
Chegam até quatro ou cinco dias antes da festa e vão aos poucos, ocupando a periferia da cidade das Santas Marias. As mulheres em trajes comuns, inicialmente, guardam vistosas e amplas saias, jóias e adornos para os três dias de peregrinação.
Os russos também são recebidos de braços abertos. Antes, eles eram proibidos de viajar, pelas autoridades soviéticas. Agora juntam seus melodiosos e românticos acordes às noites de peregrinação. Um toque de respeito, já que as mais belas músicas clássicas românticas, de origem ou inspiração cigana, são as russas.
A cantoria se estende pela noite e Santa Sara parece iluminar de alegria e cor as brincadeiras, abençoando o encontro harmônico e feliz entre ciganos de todo o mundo.
Credito: Os Mistérios de Santa Sara (Sibyla Rudana)
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